MÃES QUE AMAM, AMAMENTAM E MATAM...

Será que ainda falta dizer alguma coisa sobre mãe, depois de tudo que já se escreveu? Há poesia comparando-a a flores, a sementes, a plantas, a corpos celestes e criaturas celestiais. Há textos descrevendo-as como animais fortes, ferozes, capazes de defender suas crias em momentos de perigo eminente.

Não falta nada. Nem mesmo que elas são super em tudo o que fazem. Pois além de cuidar dos filhos, ainda têm tratar com as peripécias de maridos carentes, cafonas, cafajestes, caretas, caras de pau.

Porém o que falta dizer é que elas podem ser um tremendo problema quando fazem de todos os predicados, adjetivos e comparações algo ao pé da letra. Façamos o jogo das diferenças, e logo descobriremos que as mulheres são as únicas fêmeas do mundo animal, a desenvolver afetos, mimos, cuidados, que ao invés de preparar os filhotes para a selvageria do mundo, acabam atrofiando atitudes, virtudes, iniciativas e a liberdade de exploração do universo em que têm que sobreviver seus “dependentes”.

As mães, desse ponto de vista, acabam mantendo seus queridos ligados a elas por um cordão umbilical invisível. Em nome dessa proteção, prendem. À, pretexto de um amor incondicional, limitam. Com a desculpa de educar, empurram mente a baixo suas filosofias. A ligação invisível passa a ser mais que o DNA, que uma ligação sangüínea. Vira um grude, uma liga. E os filhos se transformam em portadores de uma idéia de mundo pré- concebida e não um aprendizado próprio. São filhos que andam como alienígenas hospedeiros de religiões, doutrinas, modo de ser, de vestir, de andar, de se comportar que é mais da matriz do que da filial. Se parecem mais que fisicamente com a pessoa que o gerou no ventre e, agora, também, no mundo. Esquecendo-se que o filho não está mais em sua bolsa, alimentado pelo líquido amniótico. Esses filhos são herdeiros dos insucessos, das frustrações, dos sonhos não realizados e de objetivos não alcançados pela mamãe.

Faltava dizer isso sobre as mães, que muitas vezes, já são cópias de suas mães, que eram carbonos de suas mães, que eram clones de suas mães, que eram aparência e semelhança de suas mães; geração após geração; numa sucessão infinda de desoriginalidades. Gente cópia, ninguém merece! Não somos gêmeos de nossas mães. Somos filhos! Pessoas, indivíduos. Pois filho é pra ser gente, com identidade, jeito próprio, caminho único, rumo seu, horizonte particular. Mãe é para, no máximo, fazer correção de rota, apontando a direção, e não seguindo junto. Pois é cada um no seu quadrado!

Minha homenagem à Dona Maria Emiliana Rosa, minha mãe, que me atirou do ninho bem cedo para que eu pudesse voar com as próprias asas. Isso foi a melhor de todas as coisas que ela pode me proporcionar, pássara que era. Pois mãe que é livre sabe que os filhos ao nascerem se libertam de seus úteros, cortam o cordão umbilical e devem ser preparados para a vida. E a vida não é mãe e nem o mundo é pai.

O melhor a fazer diante de todo esse amor que aleija é domar o coração, mamães! E, desde cedo confiar no taco de seus filhos, para que eles próprios consigam sair de suas sinucas de bico.