sexta-feira, 30 de outubro de 2009

GRAVADO MAIS QUE NA MEMÓRIA

Meu sobrinho Lucas chega trazendo um DVD com imagens da infância dele junto com meus filhos. Está lá a infância preservada. Eles correm, tomam banho, desfilam. João Pedro, irmão do Lucas, ainda engatinha no DVD. Está tudo lá: os primeiros passos, o soninho quase terno (em se tratando do João). Meus filhos, Gustavo e Rafaela, correm livres por todos os cantos daquele mundo que ainda existe... no DVD. De tudo que perdemos, de tudo que escapou, das coisas que não foi possível plastificar, cristalizar, emoldurar, a infância livre deles está ali gravada. Quizera fosse a vida assim, com essa incrível possibilidade de voltar num toque nas teclas de um controle remoto; poder dar zoom e ver a beleza quando ainda eramos "perfeitos". Mas a existência é flash e não slow; corre pra frente e não aceita repeat, return. Uma vez enter, vamos! Nosso filme sem pausa, sem rec, sem legenda. É isso aí... e pronto!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

GRILOS DA VIDA

Gosto dos sons da natureza. Não de todos os sons. Gosto do barulho suave da chuva no telhado, já desgastado pelo sol; do vento tangente soprando manso nas palhas do coqueiro do quintal; dos gritos e gargalhadas das crianças na rua da frente e até mesmo dos cachorros que ladram noite adentro. Gosto de música. Não de todas. Só das boas. Som é pra se ouvir, por mais redundante que isso soe. Não gosto, claro de tampas de panela caindo, de copos quebrados e nem desse grilo perturbante com seu canto agudo que insiste em seu solo intermitente. Chuva é uma coisa, goteira é outra. Nem todo som faz bem aos ouvidos cansados de um dia que aboliu o silêncio e assassinou cedo a tranquilidade. Mesmo assim é noite. E as noites são dos morcegos, das mariposas, dos sapos e dos grilos. Ainda que eu não goste.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O VENTO LEVA E TRAZ ATÉ ESPERANÇA

O domingo começou tranquilo e com a ressaca me embrulhando o estômago. Na madrugada passei um tempo vendo o esforço do Rubinho para se manter à frente de Button. Depois mergulhei de novo em sonhos e pesadelos e assim acordei para curtir a preguiça durante toda a manhã na caminha macia e quentinha, com a janela aberta pra rua calma e sonolenta. Disse para meu filho que não treinaríamos direção nesse domingo e aos poucos fui recuperando a flora intestinal. Da cozinha cheiro de frango e verduras frescas. Na geladeira uma MELancia que justificou o nome pela incrível doçura. No céu uma previsão de chuva que começou se confirmando lá pelas quatro e meia da tarde. Ventos fortes começaram a soprar e ameaçaram derrubar o potão de uma empresa que fica em frente nossa casa. A energia elétrica caiu e o temporal desabou. O vento uivava feroz e voraz. Resolvi colocar o carro na garagem uma vez que se o portão cedesse à força da ventania viria direto pra cima dele. Depois dessa movimentação estranha, diferente de tudo que já soprou por aqui, resolvemos dar uma volta e ver o que teria ficado intacto: a cidade estava parcialmente quebrada. Muitas lojas com letreiros danificados e árvores caídas. Hoje amanhecemos fazendo campanhas de solidariedade e muita gente se comovendo com quem sofrem com a passagem desse vento alertante de tudo que pode ainda vir...